A arte- essa "cultura sem progresso" de que nos fala Argan - é um território privilegiado para um posto de observação das grandes mutações da época contemporânea. Nela, a urgência do presente está permanentemente pressionando o sujeito para ancorá-lo no aqui e agora, exigindo sempre a visão atualizada de "uma cultura igualmente aberta às antecipações e aos retornos, às divagações e às ligações à distância, cheia de sedimentos e de canalizações secretas". As necessidades dessa esfera podem até vir a condená-la ao desaparecimento, uma vez que cessem as condições históricas que lhe deram origem num passado remoto. No momento elas persistem e se manifestam de forma vigorosa ao lado das manifestações mais recentes que com ela disputam o olhar. Uma grande mostra de gravura, como a que agora se realiza no Rio de Janeiro, pode ser o momento, também, para refletirmos sobre essa possibilidade de pensarmos na simultaneidade das diversas camadas que se acumulam com origens tão diversas das diferentes técnicas como a xilo (século XIV no Ocidente), a lito (século XIX), a serigrafia (século XX), e todas se apresentam vivas e com a mesma idade independente da data de surgimento. Talvez esteja aí uma das possibilidades de visualizarmos o que Argan quer dizer com uma "cultura sem progresso".
(Trecho de) As técnicas de reprodução e a idéia de progresso em arte (1999) in DUARTE, Paulo Sérgio - A trilha da trama e outros textos sobre arte.
2 comentários:
O comentário foi redigido e postado como texto na corrente.
Postar um comentário